Antonio José – Síntese
Disse uma vez nesta Coluna, nos tempos em que falava de minhas saudades, que estava sem tempo e percebia que por mais que me organizasse o tempo fugia de mim. Recordo-me que à época, várias pessoas me falaram que isso vinha acontecendo com elas também e que era incrível o quanto que, por mais tecnologia que temos, mais demoramos para realizar nossas tarefas. No passado as coisas eram mais difíceis, só que a vida se desenrolava com mais facilidade. Pode até parecer coisa de maluco, ou loucura de poeta que não tem o que escrever, mas a cada dia que passa – pelo menos o meu tempo – insiste em ficar cada vez mais curto.
Quando um jornal era feito por várias pessoas, se não tivesse uma equipe grande e um amontoado de máquinas, onde um parque gráfico parecia mais um museu, do que uma empresa, era melhor de trabalhar. Havia mais empregos nesta época e talvez o fato de ver mais pessoas ao nosso lado fazia com que o tempo passasse mais devagar. O que veio para agilizar, nos roubou o gosto pelo trabalho e passou a ser o grande referencial de doenças como estresse e depressão. As máquinas fazem o trabalho e o homem – agora o branco também – voltou a ser escravo.
O grande poeta Constantino Medeiros, que hoje faz poesia no céu, dizia em um dos mais belos trabalhos seus: Tempo Arisco, que: “Lembro-me com saudade, quando o tempo era mais lerdo./ Que bom era, esperar, aguardar ansioso o tempo se arrastando./ Aguardar o Natal – um marco no tempo./ Naquele tempo de minha infância/ Jesus demorava muito a nascer”. Ele sabia o que estava dizendo e na sensibilidade de poeta, entre seus versos quis dizer que hoje em dia nem bem começa o mês de janeiro e logo já chega dezembro com mais um Natal. Sinto-me como estes versos em uma confusão tamanha com meu tempo e se não agradei a você, leitor, com este artigo, pelo menos falei do meu amigo Constantino.
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