*Por Antonio José
A vida de José e Maria não tem sido fácil, eles trabalham com recolhimento de material reciclável, se orgulham da função, pois além de conseguir o sustento da família – eles têm quatro filhos –, ainda contribuem para que o futuro da humanidade seja menos devastador, recolhendo materiais que degradam a natureza.
No domingo (24/12) o casal saiu às ruas bem cedinho, geralmente não trabalham neste dia, porém, neste ano era especial, véspera de Natal e para ter uma mesa farta, era preciso “ir à luta” também no domingo. Como a maioria dos catadores de reciclável não saiu neste dia, foi bem rápido para encher o carrinho. Trabalhariam até às 14 horas, bem antes disso, já estavam decididos em voltar pra casa.
Retirando o material do carrinho para entregar na associação dos catadores de reciclável, José percebeu algo diferente em meio aos papelões e latinhas de alumínio, era uma pasta executiva, destas que os empresários usam e dentro dela tinha muitos dólares, moeda que nem conhecia direito. Conhecia sim, o seu coração e sabia que não ficaria com aquela pasta marrom.
Combinou com Maria que iriam de volta às mansões onde recolheram os recicláveis, achariam o dono e devolveriam. A tarefa não foi difícil, bastante observador, José sabia exatamente qual casa recolheu os materiais em que a pasta estava junto.
– O Senhor, por acaso perdeu uma pasta? Perguntou José, ao homem que lhe atendeu na mansão.
– Sim, perdi, respondeu Carlos Henrique de Medeiros, influente industrial do ramo de metalúrgica.
– Qual a cor de sua pasta? Marrom, respondeu Carlos.
– Ela esta qui, eu e a Maria a encontramos no meio das coisas recicláveis, em frente a sua casa.
– Deve ter sido a empregada, aquela desmiolada, que fez isso. Muito obrigado a vocês, completou o industrial, sem dar-lhes uma recompensa e muito menos desejar um Feliz Natal.
José e Maria estavam felizes pelo que fizeram – retomando a rotina – foram ao mercado comprar as coisas para a Ceia do Natal para a família. Eles estavam leves, cheios de gratidão ao menino Jesus. A verdadeira felicidade não vem de bens materiais ou de atitudes egoístas que não dão sequer para reciclar.
Devolver aqueles dólares para o dono, não mudou a vida de nenhum dos envolvidos nesta história. Carlos Henrique continua rico de bens e pobre na essência e José e Maria continuam pobres de bens e ricos na essência.
Ah, os nomes dos personagens José e Maria são mera coincidência… ou não!
*Antonio José é diretor e editor do Jornal O Liberal de Campo Mourão; tem três livros de poesias editados: Lágrimas (1989) em coautoria com Oswaldoir Capeloto, Fragmentos (1998) e Mais Uma Vez a Poesia! (2002). Em tudo que faz usa uma frase que sintetiza o que mais acredita na vida depois de Deus: É Permitido Sonhar…!
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